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Sugestão de leitura

A monografia Zé Povinho na obra de Rafael Bordalo Pinheiro 1875/1904 de José-Augusto Pinheiro é uma compilação de cerca de 120 estampas selecionadas de diversas publicações periódicas.

A 12 de junho de 1875 o jornal satírico a Lanterna Mágica publicou um desenho cujo caricaturista, o jovem Rafael Bordalo Pinheiro, veio a dar o nome de Zé Povinho.

Na primeira ilustração pública de Zé Povinho está representado um peditório para o Santo, com um altar e um rapaz que pede dinheiro a quem passa, o rapaz tem a cara de António Serpa Pimentel, Ministro das Finanças, e o Santo António é, na verdade, Fontes Pereira de Melo, o chefe do governo, que tem ao colo um menino com a cara do rei D. Luís. Sentado ao lado, com ar severo e de chicote, está o comandante da guarda municipal. A personagem de barba, que coça a cabeça com ar desconcertado enquanto paga ao pedinte, tem escrito nas suas calças a inscrição “Seu Zé Povinho”. Nascia assim uma figura emblemática do imaginário nacional, uma espécie de símbolo do povo português, como uma das suas marcas características: o pagamento de impostos, o peso fiscal e a espoliação por parte dos políticos.

O Zé Povinho foi imediatamente adotado por outros caricaturistas e ilustradores, que reconheceram o seu potencial criativo é a figura do homem comum eternamente explorado e enganado pelos políticos. Mais tarde, e já depois da morte de Rafael Bordalo Pinheiro, o Zé Povinho foi utilizado como símbolo republicano, numa altura em que a República emergia como uma esperança para a saída da profunda crise em que o país estava mergulhado.

Após a proclamação da República, em 1910, o Zé Povinho foi novamente usado como expressão do desalento e da desilusão, quando a opinião pública se apercebeu que o novo regime tinha os mesmos defeitos do anterior, nomeadamente, no que dizia respeito à instabilidade política, ao aumento do custo de vida e da carga fiscal. A censura que vigorou durante o Estado Novo limitou drasticamente a tradição satírica e crítica da imprensa portuguesa, mas não evitou que o Zé Povinho se tornasse um ícone importante no imaginário popular.

 

Disponível para consulta presencial no Fundo Geral.

FRANÇA, José Augusto. Zé Povinho na obra de Rafael Bordalo Pinheiro 1875-1904. Amadora: Bertrand, 1975

FG 7/216