Fundada a 3 de novembro de 1921, como Instituto de Radiologia de Ponta Delgada, esta entidade foi financiada pela Junta Geral do Distrito, pela Santa Casa da Misericórdia e por vários particulares, sendo, então, eleitos os órgãos dirigentes até 1924. O seu objetivo primordial era a “instalação e funcionamento de um Gabinete de Radiologia destinado a prestar serviços de radioscopia, radiografia e radioterapia” (Estatutos do Instituto de Radiologia de Ponta Delgada. Ponta Delgada: Tip. do Açoreano Oriental, 1921, p. 1). A inauguração oficial ocorreu a 31 de dezembro de 1924 e contou com a presença de autoridades civis e militares, de personalidades do meio micaelense e da imprensa.
Segundo Mont´Alverne de Sequeira (Os Açores. 2.ª série. N.º 8 (ago. 1928), pp. 10 e 11), os aparelhos do Gabinete de Radiologia foram, na sua maioria, montados nos meses de agosto e setembro de 1923 pelo especialista da casa Reiniger, Franz Loebbers, com a ajuda do assistente eletricista Jacinto Pedro Ribeiro, sob a direção do engenheiro José d´Amaral (sócio do instituto) e a supervisão da Comissão Delegada da Classe Médica, constituída por Tomás de Borba Vieira, Manuel Machado Macedo e Maria Joana de Freitas Pereira.
Por proposta de Lúcio Agnelo Casimiro, em reunião da Assembleia Geral de 9 de maio de 1939, o instituto passou a denominar-se Instituto de Radiologia Dr. Raúl Bensaúde, em homenagem ao médico gastroenterologista (1866-1938) recentemente falecido em Paris. Este médico e cientista desenvolvera significativamente e inovara a aplicação do exame radiológico, tendo sido o grande impulsionador e financiador do Gabinete de Radioscopia, criado em 1911 no Hospital da Misericórdia de Ponta Delgada. A sua viúva e filhos, Jacques e Alfredo Bensaúde, haviam feito recentemente uma generosa oferta ao instituto, com aquisição de equipamentos modernos, que, no entanto e após vários contratempos, em plena 2.ª Guerra Mundial, só se concretizaria em 1944 (BPARPD. Arquivo do Instituto de Radiologia de Ponta Delgada “Dr. Raúl Bensaúde”, lv. 1, sobretudo fl.s 26 a 29).
A gestão financeira era feita, principalmente, através de donativos e quantias pagas pelos serviços prestados. O seu funcionamento deveria ser assegurado por um indivíduo da classe médica, indicado pela Direção da sociedade, o qual seria auxiliado por uma equipa proposta por si e nomeada pela dita Direção, devendo prestar-lhe contas periodicamente, bem como à Assembleia Geral.
A nomeação para médica diretora do Instituto de Radiologia incidiu sobre a Dr.ª Maria Joana de Freitas Pereira (Ponta Delgada, São Sebastião, 13 de abril de 1880 – ibid., 3 de julho de 1965), médica do Gabinete de Radioscopia do Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, única sócia fundadora do instituto, do sexo feminino. Diplomada pela Escola Médico-cirúrgica de Lisboa, defendeu tese a 12 de julho de 1905, com dissertação inaugural intitulada Contribuição para o estudo bacteriológico das metrites. (*)
As chapas radiográficas produzidas pertenciam ao arquivo institucional, tanto nos serviços renumerados como nos gratuitos, como consta do art.º 34.º dos estatutos. Quanto aos livros de atas da Direção e da Assembleia Geral, bem como os de registo de correspondência, deveriam estar, segundo os art.ºs 36. º e 37. º, em poder dos respetivos vogais, e os livros de caixa, na posse do tesoureiro.
O fundo documental desta entidade encontra-se à guarda do Arquivo Regional de Ponta Delgada desde 17 de maio de 1991, por oferta do último tesoureiro da Direção, Manuel da Silva Melo Jr., que o tinha em sua posse. Podemos observar nos documentos selecionados este mês: a 1.ª ata da Direção, cuja reunião se realizou em casa da médica supracitada, a 8 de agosto de 1921, e duas provas fotográficas de radiografias do escultor António Teixeira Lopes (das poucas que resistiram às peripécias do tempo, sendo que todas elas são do mesmo indivíduo). (**)
(*) – Sobre a atividade desta médica, veja-se o artigo de Susana Serpa Silva, na rubrica Mulheres singulares, da secção Trabalho (no) Feminino (1850-1926) – Histórias dos Açores, do jornal Correio dos Açores – A.102, nº 32485, p. 10 –, coincidentemente publicado a 18 jul. 2021.
(**) – Essas radiografias foram feitas, com toda a probabilidade, aquando da presença do artista, em Ponta Delgada, integrado na chamada Visita dos Intelectuais, que decorreu em maio e junho de 1924.
Legenda do documento do mês:
Acta n.º 1 do Livro de actas da Direção do Instituto de Radiologia Dr. Raul Bensaúde (1921-1969).
Ponta Delgada, 8 de agosto de 1921.
Estampa com prova fotográfica de Radiografia da mão direita do Mestre da estatuaria portuguesa António Teixeira Lopes e prova fotográfica de radiografia do crânio do mesmo.
Ponta Delgada, [mai.-jun. 1924?].
BPARPD. Arquivo do Instituto de Radiologia de Ponta Delgada “Dr. Raúl Bensaúde”, lv. 2, fl.s 2-4v.º, e pt. 5.