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Destaque do mês | Os Lusíadas
Porque em 2024 celebramos quinhentos anos do nascimento do nosso poeta Maior, Luís de Camões (1524-1580), decidimos trazer-vos a obra-prima da poesia portuguesa, Os Lusíadas, até porque a nossa biblioteca possui edições raras e valiosíssimas deste poema imortal, publicado pela primeira vez em 1572. Antes de mais, importa referir que Camões lera as epopeias dos clássicos, nomeadamente, a Odisseia, na qual se inspirou, no que diz respeito à estrutura externa e interna do poema, exaltando os feitos dos heróis portugueses:
«(…)
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
(…)» (Camões, Os Lusíadas, Canto I, 3)
Com dez cantos, cada um com cerca de cem ou pouco mais estâncias de versos decassílabos, este longo poema épico, que imortaliza os Descobrimentos levados a cabo pelo povo luso, os portugueses, não narra apenas a descoberta do caminho marítimo para a Índia («(…)/Por mares nunca dantes navegados/(…)» (Camões, Os Lusíadas, Canto I, 1.3), ligando o ocidente ao oriente, embora seja esse o tema central e envolvente desta epopeia: a História de Portugal é contada e cantada pelo poeta que, inclusivamente, dedica a obra a D. Sebastião, símbolo de sonho, aventura, arrojo. Mas não só. Camões reflete sobre a ganância e a corrupção, a inveja, a falta de empatia, o desinteresse dos portugueses pela Literatura e pelas outras artes: «(…) / Não merecem tamanha glória e fama /Como a sua, que o céu e a terra espanta/(…)»(Camões, Os Lusíadas, V, 94, 3-4). O Velho do Restelo, que surge no Canto IV, simboliza a voz crítica do poeta, triste também, uma vez que, no seu país, foi mais importante uma política materialista, sem olhar aos perigos para as vidas humanas:
«(…)
“Ó gloria de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto que se atiça
Cūa aura popular que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
(…)» (Camões, Os Lusíadas, IV, 95)
No poema épico de Camões, uma das marcas da Odisseia, de Homero, reside precisamente na presença da mitologia grega, à qual está entregue a capacidade de viabilizar, impedir e suspender a viagem histórica. A relação que se estabelece entre o plano mitológico e o plano da ação potencia uma narrativa fantástica e fascinante, geradora de episódios tão belos como, a título de exemplo o Canto XIX, quando os portugueses recebem de prémio uma insula divina– a «Ilha dos Amores».
Disponíveis para empréstimo domiciliário
CAMÕES, Luís de – Os Lusíadas. 3ª ed. [Lisboa]: Ulisseia, DL. 1994.
BPARPD EMP 82(469)-1 CAM/Lus
Pais, Amélia Pinto – Os Lusíadas em prosa. [1ª ed.]. Porto: Areal, 1995.
BPARPD EMP 82(469)-1 PAI/lus ex.1
Disponível para leitura presencial
CAMÕES, Luís de – Os Lusíadas. [3ª ed.]. Porto: Porto Editora, (imp. 1996). Ed. org. por Emanuel Paulo Ramos.
BPARPD FG 8/1329