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Destaque do mês | Setembro

Nas cidades onde se refugiou com a família – «Trieste-Zurich-Paris, 1914-1921» (Joyce, 1982: 551), fugindo assim ao perigo decorrente da I Guerra Mundial, James Joyce (Irlanda, 1882-Suíça, 1941) escreveu Ulisses (EMP 82 (417)-1 Joy/Uli ex.2) e disso nos dá conta na última frase do romance que começou a ser escrito, precisamente no primeiro ano da guerra e que foi concluído três anos após. Inicialmente foi publicado em fascículos na revista de New York, Little Review, e em 1922, na cidade de Paris, foi publicada a primeira edição da obra, pela Shakespeare and Company. Até 1925, o romance esteve proibido na Inglaterra e, nos EUA, até 1933. A acção do romance, uma paródia a esse templo literário que é Odisseia (MA 4629 RES), de Homero (928-898 a. C.), narra um dia, durante o domínio britânico da Irlanda, por oposição aos mais de 17 anos que, no poema de Homero, Ulisses demora no seu regresso a Ítaca, depois de ter estado dez anos na guerra de Troía. Esse dia no romance de Joyce, 16 de Junho de 1904, veio a tornar-se o Bloomsday, celebrando anualmente a vida e a obra do escritor irlandês, James Joyce. A História da Europa passa neste romance, onde também se dá nota do anti-semitismo que então se vivia, sobretudo em Dublin, centro da ação e onde vivia a maior parte dos judeus imigrados. No romance de Joyce, Daesy, professor, misógino, racista, é a voz anti-semita. Sobre os judeus, dirá:

«eles pecaram contra a luz(…). É por isso que eles são errantes sobre a terra até aos dias de hoje. (…). Guarde minhas palavras, senhor Dedalus-disse-. A Inglaterra está nas mãos dos Judeus. Nos mais altos postos: nas finanças, na Imprensa. E são o sinal da decadência de uma nação. (…). A velha Inglaterra está morrendo.» (Joyce, 1982:30). Note-se que não é por acaso que o romance tem uma personagem judia a viver num país católico, a Irlanda: Leopold Bloom, o protagonista, que parodiará Ulisses. No romance de Joyce, este corrector de jornais é marido de Marion Bloom, cantora, que, ao contrário da fidelidade de Penélope, trai o marido. E Telémaco, o filho de Penélope e de Ulisses, será, nesta obra, parodiado por Stephen Dedalus, alter ego literário de Joyce e o protagonista do anterior livro de Joyce, Um retrato do artista quando jovem (1916). Ao escolher Dedalus, o autor presta homenagem à mitologia grega, uma vez que Dédalo era o pai de Ícaro. No romance, Stephen Dedalus será um jovem professor de 22 anos, culto, defensor da independência da Irlanda, deambulando pela cidade de Dublin,

desde a manhã desse dia 16 de Julho até à madrugada do dia seguinte. No final, Dedalus declina «prontamente, inexplicavelmente, com amicabilidade, gratamente» (Joyce, 1982:485) a família e a paternidade que Leopold Bloom lhe pretende dar.

Estamos perante uma obra absolutamente inaugural, uma escola literária com tudo o que o abrir do século XX trouxe de ciência, de filosofia, de arte, uma verdadeira montra de conhecimento trazido nas muitas citações e evocações da Bíblia, de Shakespeare, do hebraico e do irlandês antigo, da enumeração de autores e de obras, do lugar das sensações e dos sentidos, das cores e das formas, da música, de um mundo heterodoxo. A propósito de Leopold Bloom e Stephen Dedalus:

«Ambos eram sensitivos a impressões artísticas, musicais de preferência, a plásticas ou pictoriais. (…) Ambos endurecidos por precoce adestramento doméstico e uma herdada tenacidade de resistência heterodoxa professavam sua descrença em muitas doutrinas ortodoxas religiosas, nacionais, éticas. Ambos admitiam a influência alternativamente estimulante e obtundente do magnetismo heterossexual. (…). Stephen dissentiu abertamente das vistas de Bloom sobre a importância da auto-ajuda dietética e cívica enquanto Bloom dissentiu taticamente das vistas de Stephen sobre a afirmação eterna do espírito do homem sobre a literatura.» (Joyce, 461-462).

Texto: AA/BPARPDL

 

Disponíveis para empréstimo domiciliário 

JOYCE, James – Ulisses. 2ª ed. Lisboa: Difel, (imp. 1983). 

EMP 82(417)-31 JOY/uli ex.2 

 

HOMERO – Odisseia. 5ª ed. Lisboa: Livr. Sá da Costa Editora, 1980. 

EMP 82(38)-31 HOM/odi ex.3 

 

HOMERO – Odisseia. 2ª ed. Mem Martins: Publicações Europa América, 1990. 

EMP 82(38)-31 HOM/odi ex.1  
EMP 82(38)-31 HOM/odi ex.2 

 

BARROS, João de – A odisseia de Homero contada às crianças e ao povo. Lisboa: Expresso Sá da Costa Editora, 2009. 

JUV 82-3 CLAH/odi 

 

Disponíveis para consulta local 

JOYCE, James – Ulisses. 4ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. 

AP 891 RES 

 

HOMERO – Odisseia. 3ª ed. Lisboa: Livros Cotovia, 2003. 

MA 4629 RES 

 

BARROS, João de – A odisseia de Homero contada às crianças e ao povo. Lisboa: Expresso Sá da Costa Editora, 2009. 

MA 4464 RES