Abrimos 2025 com aquele que é um dos grandes nomes da ficção inglesa modernista, Virginia Woolf (1882-1941). As Ondas (VM 647 RES), cuja primeira edição saiu em 1931, é um romance denso que coloca questões universais num tempo marcado pelas consequências da Revolução Industrial, pela guerra, pelas transformações sociais, filosóficas e artísticas que decorreram desses dois acontecimentos que marcaram e alteraram completamente a vida humana. Com uma escrita profundamente marcada pelo significado e pela simbologia do tempo e pela escassez e velocidade deste, e com momentos poéticos de assinalável beleza, há uma espécie de moldura marítima que envolve toda a narrativa, trazida pela simbologia das ondas – a transformação, a mudança, mas também o apelo inevitável do mundo natural a ser esmagado pelo industrializado:
«Ondas azuis, ondas verdes, abrem um rápido leque sobre a praia, rodeando as pontas dos cardos marinhos e deixando aqui e ali finas poças de luz. Atrás de si, as ondas largam uma pálida orla negra.» (Woolf, 2000: 25).
Os vários capítulos do livro têm início numa determinada fase do dia que corresponde a uma fase da vida das seis personagens que, em outros tantos monólogos interiores, narram o ciclo de vida de cada um e de cada uma, desde a infância até à velhice, o que também corresponde ao ciclo da própria vida. Londres, a cidade industrializada e do pós-guerra:
«A própria Londres se afundou. Londres é um amontoado de fábricas arruinadas e de gasómetros.» (Woolf, 2000: 149) -, onde está situado o colégio em que estudam e onde vivem internados, durante a adolescência, surge como oponente do mundo alegre e natural onde residem com as famílias durante as férias:
«Preciso de campos e sebes, bosques e campos, e das escarpas íngremes por onde passa o caminho -de-ferro, salpicadas de arbustos e tojo, de camiões, estradas e túneis, e jardins dos subúrbios com mulheres a estender roupa lavada, e depois de mais campos e crianças balouçando nos portões…» (Woolf, 2000: 51).
A par com a nostalgia da infância, a perda da liberdade, a alegria e o sofrimento, a vida partilhada e a solidão, a luz da natureza e as sombras do mundo artificial a vida e a morte, esta ficção desenvolve-se, conforme referimos, desde a infância até à velhice, questionando a própria existência:
«Estou de novo na rua balançando a minha bengala, trauteando uma canção infantil. Terça-feira vem depois de segunda; quarta-feira depois de terça. Cada dia espalha ondulações à sua volta. O ser cresce em círculos como o tronco das árvores. E, como uma árvore, vê cair as suas folhas.» (Woolf, 2000: 227).
Ascensão e queda humanas, princípio e fim, exterioridade e interioridade, este livro fundamental é uma viagem por dentro do ciclo da vida. E a autora sabiamente faz corresponder, no início de cada capítulo, uma fase do dia a determinada fase da vida humana:
«O sol descera finalmente no horizonte, …» (p.189); «-Chegou o momento de fazer um balanço, …» (p. 191).
Autoria do texto: ÂA/BPAPDL
Disponível para leitura presencial
WOOLF, Virginia – As ondas. Lisboa: Relógio D’Água, 1988.
BPARPD VM 647 RES
Sobre Virginia Woolf
Disponíveis para empréstimo domiciliário
NATHAN, Monique – Virgínia Woolf. 1ª ed. Lisboa: Relógio d’Água, D. L. 1984.
BPARPD EMP 82(410) WOOLF, V.09 NAT/vir ex.2
BPARPD EMP 82(410).09 NAT/vir
BELÉM, Maria de – Mulheres livres: escritoras, políticas, filósofas, artistas: 12 mulheres que ultrapassaram preconceitos e viveram de acordo com as suas ideias e os seus ideais. 1ª ed. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012.
BPARPD EMP 394 A/Z BEL/mul