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Ernesto do Canto (1831 – 1900)

Ernesto do Canto nasceu em S. Roque, Ponta Delgada. Filho mais velho do segundo casamento do morgado José Caetano Dias do Canto e Medeiros, acabou por ser o administrador e proprietário dos bens patrimoniais da casa do pai, utilizando proveitosamente parte desses rendimentos ao serviço de uma notável obra cultural cuja expressão máxima é sem dúvida a coleção de 12 volumes do Arquivo dos Açores (1878-1892), cujo projeto nasceu em 1876, das conversas mantidas entre Ernesto do Canto e João Teixeira Soares de Sousa.

Desenvolveu ainda assinalável atividade no domínio dos estudos bibliográficos, genealógicos, naturalistas e agrícolas, pelo que a avaliação completa do seu labor intelectual não deve apenas circunscrever-se ao campo dos trabalhos no campo da História.

Ocupou tarefas importantes na administração pública, distrital e municipal, nomeadamente em associações recreativas, filantrópicas, agrícolas e culturais, assegurando ainda pesadas responsabilidades patrimoniais, familiares e económicas a partir da morte do pai (1858) e do seu próprio casamento (1859).

Genealogista, historiador e bibliógrafo. Apenas na década de 70 é que começam a tornar-se visíveis sinais do seu crescente entusiasmo pelo estudo do passado local.

Em 1888, Ernesto do Canto publica o seu primeiro grande trabalho no domínio da bibliografia portuguesa, intitulado Ensaio Bibliographico: catalogo das obras nacionaes e estrangeiras relativas aos sucessos politicos de Portugal nos anos de 1828 a 1834.

Segue-se aquela que é, sem dúvida alguma, a sua melhor obra de sistematização bibliográfica, a Biblioteca Açoriana, impressa em 1890.

Ao contrário de seu irmão José do Canto (cuja rica Biblioteca compreendia uma livraria camoniana de exceção), Ernesto era mais um bibliógrafo do que um bibliófilo. Efetivamente, quer o Arquivo dos Açores quer

os trabalhos bibliográficos publicados, confirmam-no como um divulgador (e não colecionador) de obras e edições raras.

Por decisão testamentária, Ernesto do Canto deixou “os livros compreendendo impressos e manuscritos, os livros que comprei em leilão pertencentes à Alfândega de Ponta Delgada, as coleções de jornais açorianos, os meus cadernos de extractos, os volumes de genealogias do Doutor Gaspar Frutuoso, do Padre Manuel Luis Maldonado, etc. e bem assim muitos cadernos de extractos dos registos paroquiais de batizados, casamentos e óbitos”. Ainda deixava os exemplares do Arquivo dos Açores, Biblioteca Açoriana e Ensaio Bibliográfico para serem vendidos ou trocados por obras sobre os Açores. Deixou ainda as respectivas estantes “caso a Biblioteca delas necessitasse”.

Apenas pretendia que “todos estes livros se conservem juntos, e separados dos que formam o fundo da Biblioteca”.

Esta livraria (acompanhada do respectivo inventário/catálogo preparado pelo irmão mais novo, Eugénio do Canto), simboliza bem o valor de uso (e não de tesouro) que para este investigador da História Açoriana, tinham os livros por si reunidos.

O acervo desta livraria, constituída por 2805 monografias, 321 periódicos, 291 documentos cartográficos, manuscritos e correspondência literária e científica (1851 cartas), não só reflete o amplo universo das suas leituras e preocupações intelectuais, como traduz a incessante preocupação de preservar arquivos (como o da Alfândega de Ponta Delgada) e fundos documentais (como o da Casa Miguel Canto e Castro) de enorme relevância para a memória colectiva do arquipélago.