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Natália Correia (1923 – 1993)

A 13 de setembro de 1923 nasce nos Açores, na ilha de São Miguel, a escritora que viria a dar um dos maiores contributos para a cultura portuguesa do século XX, Natália Correia.

Parte para Lisboa com 11 anos de idade, na companhia de sua mãe e irmã. Ali estudou no Liceu Filipa de Lencastre e iniciou a sua vida profissional, como jornalista, na Rádio Clube Português.

Cedo, aqueles que a rodeavam, aperceberam-se que estavam perante uma mulher com forte personalidade, bem ciente dos objetivos a alcançar e das metas a cortar. Decorrente dessa personalidade vincada, onde quer que estivesse era o centro das atenções.

Defensora da liberdade e da cultura, desenvolveu uma intensa atividade como escritora, poeta e ensaísta. Também marcou o mundo da política, lutou contra o fascismo e, mais tarde, já caminhando para o fim da vida, tornou-se deputada pelo PSD e pelo PRD. Nesta fase ficou célebre, não só pela sua atividade literária mas sobretudo pelos seus discursos acesos e apaixonados proferidos no Parlamento.

A sua casa, nas décadas de 50 e 60, funcionava como um dos maiores salões particulares onde se reuniam as grandes figuras da cultura portuguesa. Mais precisamente nos anos 50 a sua moradia, um quinto andar por cima da pastelaria Smart em Lisboa, foi um dos locais conhecidos pela resistência que oferecia ao regime de António de Oliveira Salazar. As reuniões tendiam sempre a criticar e combater o fascismo. É, portanto, nesse contexto, que Natália Correia, pela controvérsia que suscitava, vê apreendidos alguns dos seus livros pela PIDE.

Desde 1972, O Botequim, que viria a ser um dos centros de conspiração em prol da liberdade, era a animada tertúlia de Natália. Aí discutia-se política, arte, filosofia, literatura, cantava-se, bebia-se, comia-se a altas horas, namorava-se, faziam-se e desfaziam-se casamentos.

A partir de certa altura, Natália Correia evoluiu politicamente no sentido do PPD. Segundo Mário Soares, em termos ideológicos esta nunca foi antissocialista e, sim, fiel aos ideais do socialismo democrático. Nas eleições intercalares de 2 de dezembro de 1979, para a Assembleia da República, foi eleita deputada pelo Partido Social Democrata (círculo de Lisboa), tendo sido reeleita em 5 de dezembro de 1980.

No âmbito da sua atividade política sempre primou por defender a cultura e o património que, como dizia, é o que nos torna únicos e diferentes do resto do mundo. A luta pela integração e emancipação da mulher na sociedade portuguesa era, também, parte relevante do seu pensamento político.

No que respeita à sua vida particular, e na fase final, Natália desenvolveu uma relação amorosa com Dórdio de Guimarães, também poeta. Este foi uma figura eminentemente presente, tendo-se dedicado inteiramente a Natália. Afirma-se mesmo que a venerava, para além de a amar. Como companheiro dos seus últimos dias foi, também, o seu único herdeiro.

Dórdio, em 1997, deixou por testamento público, ao Governo Regional dos Açores, o recheio da casa de Natália para a constituição de um futuro museu, a pinacoteca e escultura de ambos a biblioteca (10.163 obras da coleção de Natália Correia e 2.283 da coleção de Dórdio Guimarães), os seus manuscritos e originais e o acervo da exposição homenagem nacional a Natália Correia.

Presentemente a biblioteca e arquivo estão à guarda desta Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. A pinacoteca, escultura e recheio da casa encontram-se no Museu Carlos Machado.

A obra de Natália Correia tem reconhecimento internacional, estando traduzida em várias línguas. Em 1976 recebeu, do Centre International de Poésie Néo-Latine e do Comité des Prix Petrarque de Poésie Néo-Latine o prémio literário La Fleur de Laure. Obteve o Grande Prémio da Poesia, de 1991, da Associação Portuguesa de Escritores e foi, ainda, galardoada com a Grande Ordem de Santiago e a Grande Ordem da Liberdade.

A sua livraria está disponível para consulta.