Esta é a madrugada que eu esperava

O dia inicial inteiro e limpo

Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

O poema atemporal que acima transcrevemos, do livro O Nome das Coisas (2015), disponível na nossa biblioteca oferece-nos uma imagética que rapidamente nos permite distinguir os 48 anos de ditadura – «Onde emergimos da noite e do silêncio» -, desse anúncio vital do regresso à Liberdade – «Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo». E sim, graças a essa revolução feita com cravos e não com armas, «livres habitamos a substância do tempo».

Há 50 anos, Portugal reconquistou a Liberdade e, com ela, a livre autodeterminação dos povos que tinham sido colonizados, por via do imperialismo que ditou a política de Salazar, obrigando os portugueses nascidos homens a integrarem a Guerra Colonial (1961-1974), entregando o sacrífico e a vida, se necessário fosse, às armas de combate, que matou mais de dez mil pessoas, deixando ainda mais de vinte mil inválidos para todo o sempre, já para não falar das famílias que ficaram órfãs.  Tudo isto em nome duma ganância que deixava adormecida, porque convinha ao regime, o analfabetismo de mais de 25% da população portuguesa, ascendendo esta percentagem aos 31% no caso das mulheres. Por tudo o que efetivamente foram as décadas de sombras e tambores, de prisões políticas e de uma feroz censura que até não perdoa o que não compreendia, é fundamental erguer um cravo e celebrar estes cinquenta anos do que nos é mais caro: a nossa Liberdade, para a qual concorrem as leituras fundamentais e o tempo que se passa a ler e a contemplar o valor e os significados de cada palavra, porque apenas essas nos entregam o acesso ao tão necessário pensamento crítico. É por tudo isto que vos trazemos também uma personalidade açoriana de abril – Medeiros Ferreira (1990), que tanto se bateu pela Liberdade e pelo respeito mútuo, escreveu um belíssimo Ensaio Histórico sobre a Revolução do 25 de Abril- O Período Pré-Constitucional, resultante dum aturado trabalho de investigação que incluiu uma série de informações obtidas através de questionários e uma bibliografia bastante extensa e abrangente, como não podia deixar de ser. Em primeiro lugar, entregamo-nos à emoção de ler, passo a passo, tudo o que se passou, desde as 22h25m do dia 24 de abril, quando a rádio transmite a canção de Paulo de Carvalho- «E depois do Adeus» -, o sinal para o início das operações militares. Um dos momentos altos é quando lemos, já no relato do 25 de Abril: «A RTP anuncia a rendição incondicional de Marcelo de Caetano» (Ferreira, 1990: 19).

Dividido em sete capítulos, esta é uma obra que nos dá a conhecer os dias que vão do 25 de Abril ao primeiro de maio e à tomada de posse do I Governo Constitucional, a descolonização, os partidos da Revolução, o Movimento das Forças armadas e a estratégia militar, além dos aspetos sociais e económicos da Revolução.

E a propósito da homenagem que aqui deixamos a este açoriano universal – Medeiros Ferreira – ao mesmo tempo que celebramos o cinquentenário da Revolução dos Cravos, fiquemos com as suas palavras, proferidas em 2004, sobre a importância e a essencialidade da descolonização:

«Tivemos, portanto, um regime ditatorial que foi incapaz de descolonizar, mau grado alguns esforços de evolução no sentido de maior autonomia.» (Ferreira,2004: 30).

Eis porque ler, conhecer é a melhor forma de estarmos gratos a estes cinquenta anos de Liberdade, que são a alavanca para o nosso futuro e das gerações seguintes.

Disponível para empréstimo domiciliário

FERREIRA, José Medeiros – Ensaio histórico sobre a revolução do 25 de Abril: o período pré-constitucional. Lisboa: Alfa, cop. 1990.

BPARPD EMP 32(469) FER/ens

 

Disponível para consulta local

ANDRESEN, Sofia de Melo Breyner – O nome das coisas. 1ª ed. Lisboa: Assírio e Alvim, 2015.

BPARPD VM 659 RES

 

[Intervenção do Professor Medeiros Ferreira]. In: CONFERÊNCIA A REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL E OS NOVOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA. Lisboa, 2004 – A Revolução do 25 de Abril e os novos países de língua portuguesa: conferência. Lisboa: Assembleia da República, 2004.

BPARPD MA 2786 RES

 

Texto: AA/BPARPDL