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A construção dos caminhos de ferro de Lourenço Marques

Data do século XV a presença portuguesa em territórios africanos, no entanto, durante um largo período temporal a principal preocupação foi, essencialmente, a da missionação e, sobretudo, o aproveitamento comercial dos recursos existentes em África. Até à década de 70 do século XIX a ocupação efetiva do território limitava-se a estreitas faixas costeiras e a pequenas cidades do litoral estratégicas para o comércio, mantendo-se no hinterland uma ocupação colonial restrita.

Os interesses coloniais das potências europeias impuseram uma nova atitude relativa à forma como se passa a entender o direito à posse de territórios em África. A conferência de Berlim, realizada entre novembro de 1884 e fevereiro 1885, estabelece um novo direito público colonial, no qual o critério da ocupação efetiva prevalece sobre o direito histórico, obrigando, entre outras medidas, à construção de infraestruturas, bem como a introdução e desenvolvimento das novas tecnologias, como o barco a vapor, o telegrafo, ou o armamento que são levados para África pelos europeus. Entre estas inovações destaca-se a ferrovia que desempenha um papel determinante na afirmação da presença colonial, marcando indelevelmente a paisagem que se transforma em paisagem tecnológica.

Neste contexto, a construção de caminhos de ferro é utilizada por Portugal como um meio eficaz de demonstrar o seu direito colonial em África, contrariando a cobiça de outras potências europeias aos seus domínios ultramarinos. Simultaneamente, resulta na europeização do território inscrevendo-se, face ao africano, na mesma função civilizadora da religião, das armas e da instrução.

Tinha, por fim, uma finalidade de propaganda na metrópole, através da divulgação de fotografias da construção dos caminhos de ferro, da sua existência e funcionalidade. É o caso da reportagem fotográfica dos caminhos de ferro de Lourenço Marques (atual Maputo, capital de Moçambique) que aqui se apresenta, que se encontra no arquivo pessoal de Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, proeminente figura política da segunda metade do século XIX.

Embora nasça em Ponta Delgada, a carreira política de Hintze Ribeiro (7 de nov. de 1849 – 1 de agosto de 1907) desenrola-se em Lisboa, sempre ao serviço do partido regenerador, como deputado, par do Reino, ministro, presidente do Conselho de Ministros e conselheiro de Estado.  Ainda que privilegie os assuntos de política nacional é de salientar alguma atenção dada aos interesses das ilhas açorianas, pronunciando-se sobre a reforma da «circulação monetária» e reclamando providências para os problemas económicos e sociais da região, sendo de salientar a autonomia administrativa concedida pelo decreto de 2 de março de 1885. No contexto mais abrangente da política nacional pode-se destacar a sua intervenção no lançamento da linha telegráfica submarina, na reforma dos serviços aduaneiros e da pauta das alfândegas e nas propostas para a construção e exploração de várias linhas-férreas. Neste sentido compreende-se, de igual forma, o interesse na ferrovia africana, nomeadamente dos caminhos de ferro de Lourenço Marques importante para assegurar a soberania do território face aos interesses ingleses.

A primeira linha de caminhos de ferro de Lourenço Marques é entregue ao empreiteiro americano Edward McMurdo, em 1883, que deveria ser levada até à fronteira, competindo ao Transval dar continuidade à sua construção em território além-fronteiras. No entanto, o incumprimento por parte de McMurdo leva à rescisão do contrato e é já o governo português que leva a construção até à fronteira em 1890. Através da reportagem fotográfica é possível percorrer a construção do caminho de ferro dando a conhecer o esforço necessário para submeter uma paisagem árida e inóspita, por vezes entrecortada por vegetação densa, em que se inscrevem os carris de ferro. Revela também a adversidade causadas pelas cheias de 1889, que provocam a derrocada de algumas partes do troço, que foi necessário reconstruir, devido à fragilidade da primeira empreitada.

A reportagem fotográfica, composta por 47 provas fotográficas em albumina, coladas em cartão, procura dar a conhecer a importância da ferrovia no transporte de mercadorias e pessoas, sendo um importante instrumento para levar a civilização até África. Daí que seja também retratado o elemento humano, o colono, mas também o elemento africano, recrutado para o trabalho, que submetem a paisagem. No entanto, mais importantes são as fotografias que retratam o elemento técnico, os carris, as pontes, as estações e sobretudo a locomotiva.

 

 

 

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Detalhes

Data:
1 Junho, 2023
Hora:
8:00 - 17:00
Categoria de Evento: