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Sugestões de Leitura | Mês de fevereiro

Este mês, convidamos-vos a uma leitura diversificada, que passa pela Literatura Portuguesa, pelo ensaio, pela Literatura Lusófona e pela Literatura Estrangeira.

De Natália Correia, Cântico do país emerso[1] (1961), um grito poético contra a ditadura do Estado Novo, que apreendeu o livro de poemas, onde se dá conta, entre outros, da tentativa de golpe militar em Portugal, liderada por Galvão Teles, que assaltou o paquete e tentou desviá-lo. Mas não só. Todo o maravilhoso livro é um único grito poético contra um país emerso, contrapondo a asfixia trazida pela repressão a uma súplica visceral, dirigida ao mar da ilha natal. Ainda no plano da poesia, de Daniel Gonçalves, Elogio da tristeza (2022), já no PNL-Plano Nacional de Leitura. Este título reúne cinco livros que convocam os clássicos, subvertendo-os, através de uma constelação de sonetos heterodoxos, que viabilizam um exercício poético de grande fôlego. Ainda, no plano da Literatura Portuguesa, o livro que foi galardoado com o Prémio Natália Correia, em 2022: de Henrique Levy, Vinte e sete cartas de Artemísia[2], um notável romance epistolar sobre a condição feminina, a ditadura e o regresso da Liberdade em Portugal, a guerra, a resiliência, a sabedoria. Percorrido pela isotopia da ilha e do mar, o autor cristaliza uma adulta e consistente linguagem poética ao longo de toda a obra, fazendo jus a dois aspectos centrais desta obra: por um lado, a defesa da poesia como patamar superior da linguagem literária, independentemente do género literário em que se escreva; por outro, a exteriorização da poesia, através das leituras e da escrita de poemas pela personagem principal, que «guarda os poemas no cesto do pão». Ainda, uma ligação intrínseca entre a poesia e a natureza, inevitável, até. Finalmente, no âmbito da Literatura Portuguesa, trazemos, de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente há luar! [3](1961): apesar do distanciamento, que permite ao autor colocar a acção durante a revolta liberal de 1817, é do regime de Salazar de se trata, o que foi entendido pelos censores, levando a PIDE a proibir a sua circulação. O próprio título e ainda outros símbolos, como a «saia verde» de Matilde, uma das personagens principais, evocam a Liberdade que acabou por ser reposta com o 25 de Abril.

     No âmbito da Literatura estrangeira, o imortal livro de Somerset Maugham, O fio da navalha[4] (1944). Entre as duas guerras mundiais e a Grande Depressão norte-americana, entre a frivolidade e o mito do sucesso dos norte-americanos e a interioridade e a herança cultural dos europeus, desenvolve-se uma narrativa inteligentemente contada na primeira pessoa, interagindo com o leitor , mostrando os ambientes de Paris daquele tempo, mas também Londres , a Riviera Francesa e até a Índia , onde o americano ,  Larry Darrel –  após a morte trágica de um amigo, ao tentar salvá-lo durante um combate  – procura reencontrar-se, depois de ter vivido em Paris, lendo os clássicos: «Se eu chegar a adquirir a sabedoria, suponho que terei a sensatez para saber o que fazer com ela. »[5]  Um belíssimo e atemporal romance-ensaio sobre as abissais diferenças de dois mundos antagónicos –Europa e América do Norte -, sobre a vida e a morte, que passeiam por entre o fausto e o «Channel» das mulheres americanas  e de  Elliott, e o apelo dos livros e da arte em Darrel e o narrador. No domínio da Literatura Lusófona, um regresso a Clarice Lispector, para vos recomendar Contos[6]. Com efeito, este livro reúne todos os contos de Lispector, numa escrita simples, e por isso muito acessível: podem, por isso mesmo, ser lidos por jovens e por adultos. São dezenas de pequenas narrativas, que misturam a ficção com momentos de crónica , onde a figura da mulher, de tipologias várias, ocupa um lugar cimeiro: «Ontem, dia 12 de Maio, Dia das Mães, (…)».[7]

Direitos de autor: AA/BPARPDL

 

 

 

Disponíveis para empréstimo domiciliário

 

GONÇALVES, DanielElogio da tristeza, últimos privilégios. [S.l.]: Nona Poesia, imp. 2022.

EMP AÇORES 82-1 GON/elo

 

LEVY, HenriqueVinte e sete cartas de Artemísia. 1ª ed. Ponta Delgada: Câmara Municipal de Ponta Delgada, 2022.

EMP AÇORES 82-31 LEV/vin

 

MONTEIRO, Luís de Sttau – Felizmente há luar!. Porto: Areal, DL. 2003.

EMP 82(469)-2 MON/fel

 

MAUGHAM, William Somerset – O fio da navalha. 1ª ed. Porto: ASA Editores, 2004.

EMP 82(410)-31 MAU/fio

 

LISPECTOR, Clarice – Contos. Lisboa: Relógio d’Água, D. L. 2006.

EMP 82(81)-34 LIS/con

 

Disponível para consulta presencial

CORREIA, NatáliaCântico do país emerso. Porto: Contraponto, 1961.

NC 1304 RES

[1] CORREIA, Natália (1961). Cântico do País Emerso. Lisboa: Contraponto.

[2] LEVY, Henrique (2022). Vinte e Sete Cartas de Artemísia. Ponta Delgada: CMPDL.

[3] MONTEIRO, Luís de Sttau (1961, 1ª ed.). Felizmente há Luar! Lisboa: Areal Editores (2021)

[4] MAUGHAM, Some-se (1944, 1ª ed.), O Fio da Navalha.  Ana Maria Chaves, Trad. Porto: Asa (2004).

[5] Id., p.77.

[6] LISPECTOR, Clarice (2006). Contos. Lisboa: Relógio D´Água.

[7] Id., p.175.

Detalhes

Início:
16 Fevereiro, 2023
Fim:
28 Fevereiro, 2023
Categoria de Evento: