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Destaque do mês – abril 2025

Este ano, assinalamos o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco (1825–1890), de ascendência açoriana:

«Se os Açores têm sido berço de homens notáveis, que admira que descendentes de filhos daquele arquipélago, nascidos noutras latitudes, continuem, com o sangue, a honrar tradições de inteligência, valor e benemerência?» (Serpa, 1925: p. 7)

          O exímio autor, um dos maiores romancistas de sempre da literatura portuguesa, foi firme devoto do romantismo português na sua fase exacerbada, profundamente dramática, carregada de amores proibidos e de momentos trágicos, no contexto da realidade social do século XIX, quando a mulher ainda era tida como alguém inferior e submissa ao homem, cegamente obediente à figura paterna que, para evitar «escândalos» amorosos, a entregava ao isolamento do convento:

«Thereza respondeu, chorando, que entraria n´um convento, se essa era a vontade de seu pae; porém, que se não privasse elle de a ter em sua companhia, nem a privasse a ella dos seus affetos, por medo de que sua filha praticasse alguma ação indigna, ou lhe desobedecesse no que era virtude obedecer. Prometeu-lhe julgar-se morta para todos os homens, menos para seu pae.». (Branco, 1879: 28)

Eis o tema central do livro que hoje vos trazemos, Amor de Perdição (FG 8/1437), concluído em 1861 e escrito na cadeia da Relação do Porto, onde o autor cumpria pena por adultério. Neste livro, o autor cria e desenvolve uma narrativa centrada em três personagens trágicas: Teresa, que não aceita casar com o primo e prefere ser condenada ao isolamento do convento, acabando por morrer; Simão, que depois  de matar Baltasar, o primo de Teresa  com quem o pai a mandara casar,  é condenado a uma pena de prisão comutada para 10 anos no degredo, na Índia, e  acaba por morrer durante a viagem; Mariana, profundamente apaixonada por Simão que não lhe corresponde, todavia, não desiste, cuidando dele durante a viagem para o exílio e encarregada de lançar ao mar toda a correspondência travada entre Teresa e Simão, e que, depois de assistir à morte do amado, decide atirar-se ao mar, pondo fim á vida.

Apesar dos excessos próprios do ultrarromantismo, neste livro, encontramo-nos com o século XIX no nosso país, regido por relações de favor, autoritarismo da figura paterna, quando ainda não se avistava o direito da mulher ao livre-arbítrio e à expressão livre dos seus sentimentos e escolhas. Também por este aspeto central e pelo pioneirismo de Camilo Castelo Branco na arte de bem escrever um romance, vale a pena disfrutar da leitura destas páginas.

Apesar de estarem disponíveis outras edições do livro, graças à colaboração da nossa colega Graça Viveiros, a edição aqui citada é deveras especial, não apenas pela sua dimensão e cuidado gráfico, mas acima de tudo por nela podermos encontrar as vozes críticas autorizadas de Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Manuel Pinheiro Chagas, cuja leitura recomendamos.

 

Referências bibliográficas

Disponíveis para empréstimo domiciliário

Castelo Branco, Camilo – Amor de perdição: memórias duma família. Nova ed. [Lisboa]: Ulisseia, (imp. 1988).

BPARPD EMP 82(469)-31 CAS/amo ex.2

Castelo Branco, Camilo – Amor de perdição: memórias duma família. Porto: Porto Editora, 2006.

BPARPD EMP 82(469)-31 CAS/amo

 

Disponíveis para leitura presencial

Castelo Branco, Camilo – Amor de perdição: memorias d’uma familia. Ed. monumental enriquecida com estudos especiaes. Porto: Casa Editora Alcino Aranha, [1981].

BPARPD FG 8/1437

 

Serpa, António Ferreira de – A ascendência açoreana de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Portvgalia, [19-?].

BPARPD AÇORES 8/1341

 

Direitos autorais do texto: AA/BPARPDL