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Destaque do mês de outubro

«A massificação é outra característica, juntamente com a frivolidade, da cultura do nosso tempo.»

Mário Vargas Llosa (2012), A civilização do espectáculo.

Mário Vargas Llosa, o conhecido escritor peruano, Prémio Nobel da Literatura em 2010, galardoado com outros prémios literários, é o autor que vos propomos este mês, através do livro que tão bem o caracteriza, A Civilização do Espectáculo (EMP 82(85)-4 VAR/civ), publicado em 2012. Porquê este livro? Vivemos num império racional de massificação, completamente destituído da interioridade que outrora identificava a cultura que hoje está «directamente esvaziada do seu conteúdo» (Llosa, 2012: 12), conforme nos diz o autor que começa exactamente por analisar as tremendas transformações deste conceito no capítulo intitulado «Metamorfose de uma palavra». Indispensável é pois aproveitarmos para revisitar Freud em O mal-estar na civilização (EMP 159.96 FRE/mal), o ensaio perene de Eliot, Notas para uma definição de Cultura (EMP 008 ELI/nota), a redefinição de Steiner em No castelo do barba azul (EMP 008 STE/noc), A Sociedade do Espectáculo, de Guy Debord (1967), de Martel (2010), Cultura mainstream. e, finalmente, o lúcido conceito de cultura que Vargas Llosa apresenta neste livro,«entendida não como um mero epifenómeno da vida económica e social, mas sim como realidade autónoma, feita de ideias, valores estéticos e éticos, e obras de arte e literárias que interagem com o resto da vida social e são frequentemente, em vez de reflexos, fonte dos fenómenos sociais, económicos, políticos e até religiosos.». (Llosa, 2012: 23)

Ora, a questão é que no nosso tempo, mercê da deriva que, desde o século XIX, e em via ascendente, temos vindo a assistir a uma mais que instalada cultura de massas, com «o predomínio da imagem e do som sobre a palavra, isto é, como ecrã.»  (P. 24).  Actualmente, predomina o materialismo excessivo, com a mundialização das marcas e do descartável, a publicidade que dita os comportamentos, as modas, inclusivamente, as modas de livros que exigem pouco esforço quer a escrever quer a ler, o que leva também à banalização da política e dos meios de comunicação social que se tornaram sensacionalistas. E como afirma o autor:

 «A diferença essencial entre aquela cultura do passado e o entretenimento de hoje é que os produtos daquela pretendiam transcender o tempo presente, durar, continuar vivos nas gerações futuras, enquanto os produtos deste são fabricados para serem consumidos nesse instante e desaparecer (…).» (P. 28).

Ora, um dos temas analisados pelo autor, como consequência do abandono daquilo que é realmente cultura e que enforma um pensamento crítico, é precisamente o abandono do erotismo que deu lugar ao «sexo light», «o sexo sem amor e sem imaginação, o sexo puramente instintivo e animal». (P. 49). Mas não só. Também o secularismo, enquanto aspecto indispensável à vivência democrática das sociedades , para a livre expressão dos cidadãos, para o exercício pleno da igualdade de oportunidades e para a prática dos direitos humanos, casa-mãe de um universo cultural que se preze, nomeadamente para com os imigrantes, que deve nortear toda e qualquer comunidade onde a cultura impere enquanto pilar para a resolução de problemas adjacentes ao cumprimento integral de tudo o que segure e sustenha a dignidade, a segurança, a integridade , a educação, a paz a que todo e qualquer cidadão deve usufruir no seu dia a dia.

Neste tempo de excessivas horas em computadores, em tablets, em e-books, «a literatura, a filosofia, a história, a crítica de arte, para não dizer a poesia, todas as manifestações da cultura escritas para a Rede serão sem dúvida cada vez mais de entretenimento, isto é, mais superficiais e passageiras, como tudo o que se torna dependente da actualidade.» (P. 199).

 

Texto: ÂA/BPARPDL

 

Disponível para empréstimo domiciliário

VARGAS LLOSA, Mario – A civilização do espetáculo.1ª ed. Alfragide: Quetzal, 2017.

BPARPD EMP 82(85)-4 VAR/civ