Skip

Destaque do mês – maio 2025

Hoje, trazemos-vos Han Kang, a escritora sul-coreana que, em 2024, recebeu o Prémio Nobel da Literatura. Com 54 anos de idade, a ficção de Han Kang desenvolve-se pela interioridade e a partir das fragilidades humanas. Foi deste modo que Han Kang conquistou uma voz absolutamente singular e portentosa, longe do déjà vu. O sofrimento humano, trazido pela guerra, pela barbárie, pela subordinação feminina, pela deficiência, são temas agregadores de uma escrita que de modo algum nos deixa indiferentes.

Em Lições de grego (2011), assistimos ao amor vivido entre um professor de grego, com 87 anos de idade e uma cegueira crescente, e uma jovem aluna que perdera a fala na pré-adolescência. Mas não só. O elogio da Língua e da importância da palavra escrita na comunicação e na relação, quando não é possível ver nem falar: «Observaste atentamente os meus lábios e, depois, olhaste, para os meus olhos com uma expressão confusa. E, então, eu expliquei. Que, a dada altura, iríamos viver juntos e que eu ficaria cego. Que, quando eu deixasse de ver, precisaríamos de palavras faladas.» (Kang, 2011:47)

Há, deste modo, uma deambulação entre a voz e o silêncio/ a mudez, entre a visão e a cegueira, sobrevoada por uma ambiência de noite e de escuridão, cuja simbólica é fundamental:

«Não era uma sensação estranha. Estava incorporada nos sonhos incessantemente recorrentes que tinha desde a adolescência, quando comecei uma nova vida na Alemanha. Nesses sonhos, estava sempre a anoitecer, eu encontrava-me num autocarro e os letreiros das montras das lojas lá fora tinham uma escrita desconhecida que não era nem a minha língua materna nem o alemão…» (p.73)

Há ainda uma enorme solidão, vivida por estas personagens centrais para quem «o sol ainda não tinha nascido» (p.11) e uma exaltação dos sentidos: a audição – o som da respiração, o som dos sapatos -, o tacto – «Ele lê a frase através do tacto» (P. 182) – o olfato – ele sente a presença dela pelo cheiro a maçã de um perfume. Ou seja, a autora salienta a importância que determinados sentidos ganham quando outros se perdem, viabilizando uma espécie de empatia e de entreajuda entre uns e outros.

Há ainda um amor e uma profunda empatia e fraternidade que cresce entre ambos, à medida que a cegueira toma conta da vida do professor Borges. E, naturalmente, uma bonita homenagem à nossa cultura clássica ocidental, também com as referências a A República de Platão, esse livro de leitura e de análise indispensável e que surge aqui precisamente pelo apelo à nossa elevação espiritual, não no sentido vulgar e banal, mas à elevação do espírito de cada um, ao encontro da verdadeira realidade, a Ideia, lá onde o Belo se aloja, bem longe do belo tantas vezes procurado na vida banal do dia à dia: importa, pois, considerar que a criação humana, a vida material, é imperfeita; é sempre imperfeita – eis a razão para a presença de Platão nesta obra e tão sabiamente aqui trazido.

Também, da mesma autora, na nossa biblioteca, recomendamos A vegetariana, Atos humanos.

Direitos autorais do texto: AA/BPARPDL

 

Disponíveis para empréstimo domiciliário

HAN, KangLições de grego.1ª ed. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2023.

BPARPD EMP 82(519.5)-31 HAN/lic

 

HAN, KangA vegetariana. 1ª ed. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2016.

BPARPD EMP 82(531)-31 KAN/veg

 

HAN, KangAtos humanos. 1.ª ed. Alfragide: D. Quixote, 2017.

BPARPD EMP 82(519.5)-31 HAN/ato