D. Maria de Portugal (ca. 1625-1684), filha de D. Gomes de Melo, alcaide-mor de Lamego, e de D. Marinha Drago de Portugal, foi primeira e única condessa de Penalva. Segundo Afonso Zúquete*, o título ter-lhe-á sido concedido por volta de 1662, pela mesma altura em que o de condessa de Pontével foi atribuído a D. Elvira Maria de Vilhena (1623-1718), pela rainha regente D. Luísa de Gusmão (1613-1666), a quem a primeira serviu como dama, tendo ambas acompanhado D. Catarina de Bragança (1638-1705), aquando do seu casamento com Carlos II Stuart, rei de Inglaterra (1630-1685), em 1662.
As senhoras da comitiva portuguesa [D. Maria de Portugal e D. Elvira Maria de Vilhena] foram desde o princípio alvo da animosidade do pessoal inglês da casa da Rainha, que começou por as achar feias, velhas, orgulhosas, cheias de niquices, nojos e escrúpulos, chegando a inventar que no seu exagero elas recusavam dormir em camas onde já tivessem dormido homens. (Sabugosa, 1912: 250)**.
Apesar dessa antipatia, diz a tradição que existem uns bolos vendidos em Richmond chamados maids of honour, feitos com uma receita levada por estas damas portuguesas de D. Catarina, que terá sido, aliás, a responsável pela introdução do chá na corte inglesa.
Com a morte do seu irmão, D Francisco de Mello Manoel (1626-1678), que também acompanhou a nova rainha a Inglaterra, como seu camareiro-mor, e foi, a partir de 1663, novo embaixador na corte britânica, D. Maria de Portugal foi herdeira de comendas, outros reguengos e bens da coroa, além de propriedades do património familiar. Como segundo herdeiro, ficou indicado o seu único sobrinho, D. Francisco de Mello Manoel da Câmara (ca. 1667-1719), filho do outro irmão, D. Jerónimo.
Por isso é que a carta de padrão pela qual D. Afonso VI concede mercê à condessa de Penalva, que selecionamos para o documento do mês, integra hoje o arquivo familiar Mello Manoel da Câmara, que se encontra à guarda desta Instituição.
A emissão das cartas de padrão de juro remonta a ca. 1500. Estes documentos correspondem a títulos do Tesouro e encontram-se transcritas nas Chancelarias Régias. São considerados fontes de informação ricas, porque contêm dados importantes para o estudo das épocas a que respeitam, designadamente elementos de natureza política económica e social***.
* ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (coord.) – Nobreza de Portugal. Lisboa: Editorial Enciclopédia, Ltd., 3 vol, 1960-1961.
** SABUGOSA, Conde de – Donas de tempos idos. [1.ª ed.]. Lisboa: Livraria Ferreira, 1912.
*** FRANCISCO, António de Oliveira in http://geneall.net/pt/forum/152781/o-que-significa-uma-carta-de-padrao/.
Legenda do documento:
– Carta de padrão, pela qual D. Afonso VI, Rei de Portugal, concede mercê a D. Maria de Portugal, condessa de Penalva. Lisboa, 25 nov. 1662.
BPARPD. Arquivo Mello Manoel da Câmara, mç. 59, doc.785.