Partitura de Marcos António Portugal no Arquivo dos Condes da Ribeira Grande
O documento em destaque deste mês é uma partitura manuscrita para duas vozes e ensemble de instrumentos, que pertence ao arquivo de família dos Condes da Ribeira Grande[1]. Trata-se de uma Cena e Dueto intitulado “Apaga quell’orgoglio” para duas vozes, violinos, viola, oboé, clarinetes, trompas, fagotes e baixo contínuo, de um dos mais importantes compositores da corte portuguesa dos séculos XVIII-XIX.
Nascido em Lisboa a 24 de março de 1762 e falecido no Rio de Janeiro a 17 de fevereiro de 1830, Marcos António Portugal[2] foi compositor e organista da Sé Patriarcal de Lisboa. Discípulo de João de Sousa Carvalho (1745-1798), ocupou os cargos de Mestre de Solfa do Seminário da Patriarcal, Mestre de Musica ou Maestro do Real Teatro de São Carlos e Mestre de Música da Imperial Família, ocupando-se também da educação das infantas, filhas do Imperador D. Pedro I do Brasil.
A obra em destaque, “Apaga quell’orgoglio”, é um dueto entre as personagens mitológicas Polifemo e Adrasto. Terá sido possivelmente extraído da ópera “Adrasto Re d’Egitto”, um drama musical escrito por volta de 1800, em Lisboa, com libreto de Giovanni De Gamerra. Musicalmente, a peça inicia-se por uma abertura instrumental, seguindo-se um longo recitativo de Polifemo e Adrasto com acompanhamento de violinos e baixo contínuo e uma ária em dueto acompanhado por todos os instrumentos. Pelo período temporal em que estas partituras foram compostas é provável que tenham sido adquiridas pelos Condes da Ribeira Grande para serem colecionadas ou, eventualmente, tocadas na residência da família em Lisboa, o Palácio da Junqueira.
O documento escolhido é um dos 13.058 documentos que compõem o Arquivo dos Condes da Ribeira Grande. Datado entre 1475 e o século XX, o acervo inclui uma grande variedade de tipologias documentais relacionadas com a gestão patrimonial da casa, como escrituras, livros de contas e autos cíveis. O arquivo preserva, de igual forma, documentos que remetem para a esfera mais privada e pessoal da família, como, genealogias, algumas cartas régias, correspondência de amigos e familiares e partituras musicais.
Apesar de não serem numerosas, apenas 22 partituras musicais, a presença destas revela a importância da música, como forma de lazer e de expressão cultural no seio da família dos Condes da Ribeira Grande. Este destaque ganha especial relevância pela celebração próxima do Dia Mundial da Música, a 1 de outubro, e procura sublinhar a importância da preservação e divulgação do património musical do passado.
[1] Para mais informações, consulte-se o registo de descrição da partitura – https://arquivos.azores.gov.pt/details?id=1695979
[2] Para informação mais detalhada sobre a vida e obra deste compositor consultar o trabalho de António Jorge Marques. Cf. MARQUES, António Jorge – A obra religiosa de Marcos António Portugal (1762-1830): catálogo temático, crítica de fontes e de texto, proposta de cronologia. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal/Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. 2012.
Título original: Scena e Duetto / Apaga quell’orgoglio / Con Violini, Viole, Oboê, Clarini, Trombe, / Fagotti, e Basso/ Del Sig.re Marco Antonio Portugallo.
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Legendas
Scena e Duetto “Apaga quell’ orgoglio” Con Violini, Viole, Oboê, Clarini, Trombe, Fagotti, e Basso.
Partitura manuscrita para vozes e orquestra. Lisboa, [ca. 1800]. 25 f.
Compositor: Marcos António Portugal.
BPARPD. Arquivo Condes da Ribeira Grande, cx. 39, doc. 551.
Retrato de Marcos António Portugal
Disponível em: Marcos António Portugal
Coordenação Pesquisa Seleção e texto
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